10 recomendações para uma boa relação médico-paciente 

Fazer auto-checagem antes do início da consulta

 Muitas vezes, ao iniciar o atendimento de pacientes, estamos cansados, com algum sintoma físico ou preocupação importante, fatores que podem interferir na condução da consulta. Nessas situações, é fundamental estabelecer medidas de segurança para evitar falhas, registrando os dados importantes da anamnese no prontuário, checando duplamente os documentos emitidos e intensificando a concentração no momento de consulta, por exemplo.4

Ouvir com atenção

 A experiência de estar falando com alguém que parece não estar atento ao que dizemos é desconfortável para qualquer indivíduo, especialmente quando se trata da relação entre profissional de saúde e paciente. Estudos mostram que, em média, os pacientes são interrompidos após 11 segundos de fala, no momento inicial, inviabilizando que o motivo da consulta seja exposto em plenitude.5

Manter o olhar fixo no paciente – especialmente no primeiro minuto de atendimento – deixando que este expresse suas demandas e prestando a atenção na linguagem corporal e nos tópicos de maior sensibilidade é essencial para uma anamnese efetiva e para que o paciente tenha a sensação de que sua demanda foi acolhida e compreendida pelo profissional.4

A escuta atenta facilita no diagnóstico diferencial do médico e permite o surgimento de hipóteses diagnósticas acuradas a partir das informações obtidas, facilitando o diagnóstico com o auxílio do exame físico e de dados epidemiológicos e sociodemográficos.

Ser gentil

Receber o paciente na porta, conduzi-lo até o local onde deve se acomodar para a consulta, auxiliar pessoas com necessidades especiais, realizar exame físico cuidadoso e fazer perguntas e afirmações combinando assertividade e gentileza demonstra respeito pelo paciente e a intencionalidade por parte do médico no estabelecimento de uma relação de qualidade.

Ser acessível

Durante a consulta, manter abertura para novos questionamentos e esclarecimentos de dúvidas qualifica a relação estabelecida com o paciente. Ter horários na agenda para atender pacientes com queixas agudas auxilia no posicionamento do médico como recurso a ser buscado a cada episódio novo de doença ou a cada agudização de problema crônico.

Estabelecer formas alternativas de contato de acordo com as preferências pessoais de cada profissional – e-mail, telefone do serviço de saúde, WhatsApp pessoal ou da equipe – pode auxiliar na solução de problemas pontuais e reduzir a pressão assistencial presencial.

Minimizar interrupções

Pactuar com a equipe de trabalho formas e situações para interrupção da consulta, desativar notificações do celular, manter o mínimo de abas do computador abertas, estar com o prontuário do paciente aberto/à disposição e ter no consultório os itens necessários para a consulta – receituário, estetoscópio, esfigmomanômetro, entre outros – são tarefas a serem observadas antes da consulta para aumentar o controle do médico sobre o ambiente, facilitando a linearidade da consulta médica.4

Prezar pela resolutividade

Durante a anamnese, é indispensável delimitar a demanda principal e elencar as demandas adicionais, pactuando com o paciente as que serão trabalhadas na consulta. Após momentos iniciais de perguntas abertas, é importante lançar mão de perguntas focadas envolvendo a cronologia e os sintomas associados, elaborando um breve resumo ao fim da consulta e optando por medidas diagnósticas e terapêuticas que aliem eficácia à satisfação e comodidade do paciente.4 É fundamental apresentar este resumo ao paciente antes de finalizar a consulta: “então, o senhor concorda que a dor lombar é de início recente e piora aos movimentos, […] neste sentido, podemos instituir um tratamento […]”.

Agir com empatia

Demonstrar empatia pelo paciente pode dissipar momentos de agressividade latente e qualificar a condução da consulta. Um paciente que tenha ficado longo tempo na sala de espera, ao entrar irritado, se ouvir do médico que compreende o seu descontentamento – mais do que ouvir as razões pelo atraso – poderá resolver a situação sem maior alongamento, liberando o tempo de consulta para a exploração das demandas do paciente, qualificando a relação estabelecida.

Agir com empatia envolve, também, compreender as dificuldades do paciente no seguimento das recomendações e o impacto das queixas na rotina diária, contribuindo para o estabelecimento da relação terapêutica.

Demonstrar competência cultural

A competência cultural é um atributo derivado da atenção primária que envolve a adaptação do provedor (equipe e profissionais de saúde) às características culturais especiais da população, facilitando a relação e a comunicação entre as partes.6 O exercício da competência cultural permite a desmobilização de preconceitos e a proximidade do médico com o universo vivido pelo paciente, facilitando a elaboração de diagnósticos e de planos terapêuticos compartilhados. É um exercício de alteridade.

A competência cultural é desenvolvida no profissional por meio de conhecimento da população atendida, bem como dos seus costumes, crenças e valores, e pelo consumo de outros modos de aprendizagem como leitura de livros não-médicos, por exemplo.

Praticar a orientação familiar

Durante a avaliação de cada paciente e de suas necessidades, o contexto familiar e seu potencial de cuidado e dano à saúde deve ser considerado, incluindo o uso de ferramentas de abordagem familiar se necessário.

Exemplos clássicos são o paciente diabético que reside em ambiente domiciliar com elevado consumo de alimentos doces ou a família com bebê pequeno onde há pressão para administração de chás, mel ou outros itens desaconselhados – envolver os familiares na consulta, tratar os assuntos de forma direta e fazer acomodação do papel dos familiares no cuidado4 pode ser a chave para a melhor condução de diferentes situações clínicas, aumentando a confiança do paciente no profissional de saúde.

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