Transtornos de Personalidade do Diagnóstico ao Tratamento!

 O transtorno de personalidade é um padrão persistente de vivência íntima ou comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo”.

Todos nós temos uma personalidade que tem capacidade de adaptação a normais culturais, éticas e morais.

Sintomas do transtorno de personalidade

Os transtornos de personalidade variam em relação a sua forma de aparecimento a depender de uma série de fatores.

As características mais variáveis entre esses transtornos são:

  • Cognição: arquitetura de valores, capacidade de inteligência, juízo de realidade;
  • Afetividade: estabilidade das emoções, níveis de autoestima, predominância de sentimento. Isso varia tanto de transtorno para transtorno quanto dentro de um próprio transtorno.
  • Volição: controle de reações, nível de agressividade, grau de obsessividade.

Esses pilares levam ao padrão de funcionamento interpressoal.

“PADRÃO DE FUNCIONAMENTO”: a base para o nosso funcionamento, capacidade e modo de reação tem 2 pilares: temperamento (muito determinado geneticamente) e caráter (no sentido do aprendizado a lidar com reações).

  • Persistente, inflexível e abrangente -> características de TP. São pessoas que “sofrem e fazem sofrer” – provoca sofrimento clinicamente significativo.
  • É estável e de longa duração! Não é característico uma pessoa que muda o comportamento “do nada”. Desde jovem (anos dos 18 anos), existem indícios desses comportamentos. O diagnóstico retrospectivo, portanto, é fundamental;
  • A associação com outras comorbidades psiquiátricas e clínicas é frequente (depressão, dor crônica);
  • Excluir outro transtorno mental ou uso de drogas.

Grupos transtorno de personalidade

Existem classicamente 3 grupos:

  • Grupo A;
  • Grupo B;
  • Grupo C.

Grupo A

Transtorno de Personalidade Paranóide

Todos somos algo paranoides, preocupados, temos medo de ser assaltador, lê o contrato antes de assinar… Mas, existem pessoas que são extremamente paranoides. Critérios:

  1. Suspeita, sem fundamento suficiente, de estar sendo explorado, maltratado ou enganado por terceiros;
  2. Preocupa-se com dúvidas infundadas acerca da lealdade ou confiabilidade de amigos ou colegas;
  3. Reluta em confiar nos outros por um medo infundado de que essas informações possam ser maldosamente usadas contra si;
  4. Interpreta significados ocultos, de caráter humilhante ou ameaçador em observações com acontecimentos benignos (porque ninguém veio de mochila a eu vim? Pessoas sussurrando – estão falando o que de mim?”)
  5. Guarda rancores persistentes, ou seja, é implacável com insultos, injúrias ou deslizes;
  6. Percebe ataques a seu caráter ou reputação que não são vistos pelos outros e reage rapidamente com raiva ou contra-ataque;
  7. Tem suspeitas recorrentes, sem justificativa, quanto à fidelidade do cônjuge ou parceiro sexual.

Transtorno de Personalidade Esquizóide

  1. Não deseja contato ou relacionamentos íntimos, incluindo fazer parte da família;
  2. Quase sempre opta por atividades solitárias (pessoas presas no quarto mexendo no computador por dias);
  3. Manifesta pouco, se algum, interesse em ter experiencias sexuais com parceiros. Número grande de pessoas assexuadas. Se fazem sexo, é sem prazer
  4. Tem prazer em poucas atividades, se alguma
  5. Não tem amigos íntimos ou confidentes, outros que nos parentes de 1º grau
  6. Indiferente a elogios ou críticas;
  7. Embotamento afetivo.

Pode ser esquizoide ou esquizotípico. Quando esquizoide, muitas vezes confundido com autismo, mas não tem os sintomas centrais!

Transtorno de Personalidade Esquizotípica

Pode ser um prodromo da esquizofrenia. Está incluso no DSM-5 como uma das doenças do espectro da esquizofrenia.

  1. Ideias de referência excluindo delírios de referência;
  2. Crenças bizarras ou pensamento mágico que influenciam o comportamento e não estão de acordo com as normas de subcultura do indivíduo – não é um delírio. Tem pensamentos com rigidez e convicção, crenças, mas não é considerado delírio. Ex: o botafogo vai ganhar o campeonato nacional. Vai ganhar o campeonato mundial.
  3. Experiencias perceptivas incomuns, incluindo ilusões somáticas;
  4. Pensamento e discurso bizarros;
  5. Desconfiança ou ideação paranoide;
  6. Afeto inadequado ou constrito;
  7. Aparência ou comportamento esquisito, peculiar e excêntrico;
  8. Nao é 100% embotado socialmente. Não tem amigos íntimos ou confidentes, excetos parentes de 1º grau;
  9. ansiedade social excessiva que não diminui com a familiaridade e tende a estar associada com tremores paranoides em vez de julgamentos negativos acerca de si próprio.

Grupo C

Transtorno de Personalidade Esquiva

É mais crônico que o TP de ansiedade e mais crônico.

  1. Evita atividades ocupacionais que envolvem contato interpressoal significativo por medo de críticas, desaprovação ou rejeição;
  2. Reluta a envolver-se, a menos que tenha certeza da estima da pessoa;
  3. Mostra-se reservado em relacionamentos íntimos, em razão do medo de passar vergonha ou ser ridicularizado;
  4. Preocupação com críticas ou rejeição em situações sociais;
  5. Inibição em novas situações interpressoais, em virtude de sentimentos de inadequação;
  6. Vê a si mesmo como socialmente inepto, sem atrativos pessoais ou inferior;
  7. Extraordinalmente reticente em assumir riscos pessoais ou envolver-se em quaisquer novas atividades, porque poderia causar vergonha.

Transtorno de Personalidade Dependente

  1. Dificuldade em tomar decisões do dia-a-dia sem uma quantidade excessiva de conselhos e reasseguramento da parte de outras pessoas;
  2. Necessidade de que os outros assumam a responsabilidade pelas principais áreas da sua vida;
  3. Dificuldade em expressar discordância de outros, pelo medo de perer apoio ou aprovação;
  4. Dificuldade em iniciar projetos ou fazer coisas por conta própria em vista de uma falta de autoconfiança em seu julgamento ou capacidades, não por falta de motivação ou energia.
  5. Vai aos extremos para obter carinho e apoio, a ponto de oferecer-se para fazer coisas desagradáveis;
  6. Sente desconforto ou desamparo quando só, em ração de temores exagerados de ser incapaz de cuidar de si próprio;
  7. Busca urgentemente um novo relacionamento como fonte de carinho e amparo, quando um relacionamento íntimo é rompido.
  8. Preocupação irrealista com temores de ser abandonado à própria sorte.

Transtorno de Personalidade Obsessiva Compulsiva

  1. Preocupação tão extensa com detalhes, regras, listas, ordem, organização ou horários, que o alvo principal da atividade é perdido;
  2. Perfeccionismo que interprete na conclusão de tarefas;
  3. Devotamento excessivo ao trabalho e à produtividade, em detrimento de atividade de lazer e amigos;
  4. Excessiva inflexibilidade em questões de moralidade, ética e valores;
  5. Incapacidade de desfazer-se de objetos usados ou inúteis, mesmo quando não tem valor sentimental – diferente do transtorno de acumulação;
  6. Reluta em delegar tarefas ou trabalhar em conjunto com outras pessoas, a menos que estas se submetam a seu modo exato de fazer as coisas;
  7. Estímulo de vida miserável quanto à gastos pessoais e com outras pessoas, o dinheiro é visto como algo que deve ser reservado para catástrofes futuras;
  8. Rigidez e teimosia.

Grupo B

Transtorno de Personalidade Antissocial

  1. Incapacidade de adequar-se às normas sociais com relação a comportamentos ilícitos, indicada pela execução repetida de atos que constituem motivo de detenção;
  2. Propensão para enganar, mentir repetidamente, usar nomes falsos ou ludibriar para obter vantagens pessoais ou prazer – golpes;
  3. Impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro;
  4. Irritabilidade e agressividade, sem empatia;
  5. Desrespeito a própria segurança própria e alheia;
  6. Irresponsabilidade consistente, indicada por repetido fracasso em manter um comportamento laboral consistência ou honrar obrigações financeiras;
  7. Ausência de remorsos, indiferença pela racionalização por ter ferido, maltratado ou roubado alguém (é mais que a falta de empatia).

Transtorno de Personalidade Borderline

  1. Esforços frenéticos no sentido de evitar um abandono real ou imaginário;
  2. Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização;
  3. Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e resistente da auto-imagem ou sentimento de self;
  4. Impulsividade em pelos menos 2 áreas potencialmente prejudiciais à própria pessoa;
  5. Recorrência de comportamentos, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamentos automutilantes;
  6. Instabilidade afetiva devido a acentuada reatividade do humor;
  7. Sentimentos crônicos de vazio;
  8. Raiva inadequada e intensa ou dificuldade em controlar a raiva;
  9. Ideação paranoide transitória e relacionada ao estresse ou graves sintomas dissociativos;

Tem características parecidas com o transtorno bipolar. Estabilizadores do humor podem ser utilizados.  

Transtorno de Personalidade Histriônica

  1. Desconforto em situações nas quais não é o centro das atenções;
  2. A interação com os outros frequentemente se caracteriza por um comportamento inadequado, sexualmente provocante ou sedutor;
  3. Mudanças rápidas e superficialidade na expressão das emoções
  4. Constante utilização da aparência física para chamar a atenção sobre si próprio;
  5. Estímulo de discurso excessivamente impressionalista e carente de detalhes;
  6. Dramaticamente, teatralidade e expressão emocionalmente exageradas;
  7. Sugestionabilidade, ou seja, é facilmente influenciado pelos outros;
  8. Condierar os relacionametos mais íntimos que realmente são.

Transtorno de Personalidade Narcisista

  1. Sentimento grandioso acerca da própria importância;
  2. Preocupação com fantasias de ilimitado sucesso, poder, inteligência, beleza ou amor ideal;
  3. Crença de ser “especial” e única e de que somente pode ser compreendido ou deve associar-se a outras pessoas ou instituições de condição elevada;
  4. Exigência de admiração excessiva;
  5. Presunção, ou seja, possui expectaivas irracionais de receber um tratamento especialmente favorável ou obediência automática às suas expectativas;
  6. É explorador em relacionamentos interpessoais, isto é, tira vantagem de outros para atingir seus próprios objetivos;
  7. Ausência de empatia: reluta em reconhecer ou identificar-se com sentimentos e necessidades alheias;
  8. Frequentemente sente inveja de outras pessoas ou acreditar ser alvo de inveja alheia.

Tratamento

Em geral, o objetivo do tratamento dos transtornos de personalidade é

  • Reduzir o sofrimento subjetivo
  • Permitir que os pacientes entendam que seus problemas têm origem interna
  • Diminuir comportamentos significativamente mal-adaptativos e socialmente indesejáveis
  • Modificar traços de personalidade problemáticos

Reduzir o sofrimento subjetivo (p. ex., ansiedade, depressão) é o primeiro objetivo. Esses sintomas muitas vezes respondem à intensificação do suporte psicossocial, que muitas vezes representa retirar o paciente de situações ou relacionamentos estressantes demais. Tratamento medicamentoso pode ajudar a aliviar o estresse. A redução do estresse torna o tratamento do transtorno de personalidade subjacente mais fácil.

Um esforço para permitir que os pacientes percebam que seus problemas são internos deve ser feita precocemente. Os pacientes precisam entender que seus problemas com o trabalho ou relacionamentos são causados por suas formas problemáticas de se relacionar com o mundo (p. ex., tarefas, autoridade ou em relacionamentos íntimos). Alcançar esse entendimento requer uma quantidade substancial de tempo, paciência e compromisso por parte do médico. Os médicos também precisam de uma compreensão básica das áreas de sensibilidade emocional do paciente e das formas usuais de enfrentamento. Familiares e amigos podem ajudar a identificar os problemas que pacientes e médicos de outra forma não perceberiam.

Comportamentos mal-adaptativos e indesejáveis (p. ex., imprudência, isolamento social, falta de assertividade, explosões temperamentais) devem ser tratados rapidamente para minimizar os danos continuados para empregos e relacionamentos. A mudança comportamental é mais importante para os pacientes com os seguintes transtornos de personalidade:

  • Borderline
  • Antissocial
  • Esquivo

O comportamento geralmente pode ser melhorado em meses por terapia em grupo e modificação de comportamento; limites no comportamento muitas vezes tem de ser estabelecidos e impostos. Às vezes, os pacientes são tratados em um hospital-dia ou ambiente residencial. Grupos de autoajuda ou terapia familiar também podem ajudar a mudar comportamentos socialmente indesejáveis. Como os membros familiares e amigos podem agir de maneiras que reforçam ou diminuem os comportamentos ou pensamentos problemáticos do paciente, o envolvimento deles é útil; com aconselhamento, eles podem ser aliados no tratamento.

Modificar traços de personalidade problemáticos (p. ex., dependência, desconfiança, arrogância, espírito de manipulação) leva muito tempo—tipicamente > 1 ano. A base para efetuar essa mudança é

  • Psicoterapia individual

Durante a terapia, os médicos tentam identificar problemas interpessoais à medida que eles surgem na vida do paciente. Os médicos então ajudam os pacientes a entender como esses problemas estão relacionados a seus traços de personalidade e fornecem treinamento de habilidades para desenvolver maneiras novas, melhores de interagir.

Normalmente, os médicos devem indicar repetidamente os comportamentos indesejáveis e suas consequências antes que os pacientes se deem conta. Essa estratégia pode ajudar os pacientes a mudar seus comportamentos desadaptativos e convicções equivocadas.

Embora os médicos devam agir com sensibilidade, eles devem estar cientes de que bondade e conselhos sensatos por si sós não mudam os transtornos de personalidade.

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