Burnout e Estresse no Trabalho

De forma geral, pode-se compreender o estresse como qualquer situação de tensão aguda ou crônica que gere mudanças no comportamento ou no estado emocional do indivíduo, levando-o a uma resposta de adaptação psicofisiológica. Portanto, é uma forma que o organismo encontra para lidar com situações que podem tirar o equilíbrio do individuo. Diante de uma situ- ação estressora, o organismo busca se adaptar aos estímulos ao seu redor, por meio de um conjunto de respostas específicas, que geralmente são de- monstradas em quatro fases, sendo elas:
a) Fase de alerta: diante de uma situação que gera tensão, o organismo se prepara para agir, com a produção de substâncias como a adrenalina, que o leva as reações de “luta e fuga” e, por isso, demanda esforços físicos e emo- cionais.
b) Fase de resistência: ao persistir a fase de alerta, o indivíduo utiliza ener- gia adaptativa para se reequilibrar. Se consegue, os sinais da fase de alerta desaparecem, levando-o à sensação de melhora. Quando isso não ocorre, o indivíduo sofre a sensação de desgaste generalizado.
c) Fase de quase-exaustão: nesta fase, o organismo está enfraquecido e não consegue se adaptar ao agente estressor, então as doenças começam a aparecer, tais como herpes simples, psoríase, picos de hipertensão e diabetes nas pessoas com predisposições genéticas.
d) Fase de exaustão: resulta da contínua exposição do indivíduo ao estres- sor ou a muitas fontes de estresse simultâneas, e há incidência da exaustão psicológica (depressão, ansiedade aguda, inabilidade de tomar decisões, vontade de fugir de tudo) e física (alterações orgânicas, hipertensão arterial essencial, úlcera gástrica, psoríase, vitiligo e diabete).

SÍNDROME DE BURNOUT
A Síndrome de Burnout é compre- endida como uma reação ao estresse crônico relacionado ao trabalho, que envolve atitudes, comportamentos e emoções negativas do indivíduo fren- te ao seu trabalho e às pessoas que se relacionam a ele. Ocorre quando o indivíduo chega ao seu limite por não ter consegui- do se adaptar a um trabalho altamente estressante e com grande carga de tensão. A concepção psicossocial, mais fortemente difundida sobre a Síndro- me de Burnout, a constitui a partir de três dimensões, as quais acometem o indivíduo progressivamente. São elas:
a) Exaustão emocional: ocorre quando o indivíduo não possui mais condições de des- pender a energia que seu trabalho requer, e geralmente é provocada pela sobrecarga de trabalho e problemas nas relações. Nesta dimensão, o indivíduo vivencia sentimentos de desesperança, solidão, raiva, impaciência, depressão, irritabilidade, tensão, preocupação, baixa energia, entre outros.
b) Despersonalização: como reação à sua exaustão emocional, a despersonalização é re- conhecida como a maneira como o indivíduo se defende da carga emocional que seu tra- balho lhe exige. Nesta dimensão, ele apresenta uma espécie de evitação das pessoas com quem tem contato no trabalho, demonstra atitudes insensíveis em relação às pessoas e cria barreiras a fim de não permitir que os problemas e sofrimentos dos outros.
c) Baixa realização profissional: com a predominância da despersonalização, o indivíduo passa a reduzir o tempo que passa no trabalho e o empenho que despende sobre ele, o que acaba por comprometer seus resultados. Como consequência, o indivíduo sente que pouco tem sido realizado por ele em seu trabalho, se sente insatisfeito com o que está executando e há uma percepção de incompetência de sua parte.

A Síndrome de Burnout afeta, majoritariamente, os pro- fissionais que lidam diretamente com pessoas em seu trabalho, pois em suas atividades estão sujeitos a um maior envolvimento emocional, que os coloca diante de maiores cargas mental e emocional em seu dia a dia. Sendo assim, ela é tida como um risco ocupacional, principalmente para as profissões que envolvem a área da saúde, da educação e dos serviços humanos, e são com estas populações que as investigações relacionadas ao Burnout são mais encontradas.
Ainda que estudos venham sendo realizados com as populações mais fortemente atingidas pela síndrome – como professores e profissionais da saúde – e eles de- monstrem a incidência dela sobre esses profissionais,
um consenso sobre a prevalência de Burnout ainda parece desconhecido na literatura. Contudo, seu crescimento continua a ser identificado em virtude da natureza do trabalho e das alterações ocorridas nos ambientes e relações laborais. Isso fez com que a Síndrome de Burnout fosse incluída na 11a Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID- 11 – 2018), na lista dos diagnósticos vinculados aos Problemas Associados ao Emprego ou Desemprego, sob o código QD85, como um fenômeno ocupacional, cuja incidência é relacionada exclusivamente ao contexto do trabalho.

Estudos nacionais e internacionais têm apontado que algumas variáveis pessoais parecem demonstrar uma espécie de “perfil” mais suscetível ao desenvolvimento da síndrome. As mulheres têm apresentado maiores ní- veis de exaustão emocional, menor despersonalização e maior sentimento de realização profissional. A hipótese é que esses índices se dão em virtude da responsabilidade familiar, do tipo de ocupação e do papel do sexo feminino na socialização, visto que elas possuem um maior envolvimento e preocupação com cuidados e o bem-estar das pessoas característica central das pessoas acometidas pela Síndrome de Burnout, devido
ao contato direto com pessoas. Além disso, a alta exaustão emocional nas mulheres também pode estar relacionada à emocionalidade vinculada ao papel feminino, bem como à dupla jornada com que elas lidam, conciliando as deman- das pessoais às profissionais. As pessoas solteiras, separadas ou viúvas apresentam maiores níveis de Burnout em relação às casadas e mais velhas. Os estudos também mostram que, quanto mais jovem é o profissional, maior é o sentimento de distanciamento das pessoas com as quais ele se relaciona em seu trabalho.

Já no tocante aos aspectos laborais, indivíduos com elevadas cargas de trabalho, relações intensas com as pessoas a que atendem em sua rotina de trabalho (por exemplo, alunos no caso de profissionais da área da educação e pacientes no caso dos profissionais da saúde), vínculo profissional com mais de uma organização, condições de trabalho inadequadas, desequilíbrio entre as exigências da profissão e as recompensas recebidas, como salário e reconhecimento profissional, carga horá- ria extensa e falta de apoio técnico para o trabalho, também se tornam mais suscetíveis ao desenvolvimento da Síndrome de Burnout.
Ademais, os pesquisadores destacam que os traços de personalidade podem conferir uma vulnerabilidade pessoal. Por “traço”, entendemos como uma disposição generalizada, que tende a aparecer frequentemente na nossa forma de pensar, agir e sentir e que é relativa- mente estável ao longo do tempo. Ou seja, indivíduos com maiores níveis de determinados traços possuem uma chance aumentada de desenvolver um desfecho psicopatológico.

Outra característica individual comumente citada na literatura é o perfeccionismo, definido como o esta- belecimento e a busca por altos padrões de desempenho, que são acompanhados por críticas severas e uma busca por evitar falhas e erros. Ao longo dos últimos anos, o perfeccionismo vem sendo compreendido como uma característica diagnóstica, ou seja, que colabora para a etiologia e manutenção de diversos quadros psicopatológicos, como transtornos de ansiedade, depressão, ideação suicida, transtornos da personalidade, transtornos alimentares e, claro, o Burnout.
Os indivíduos com altos níveis de perfeccionismo, ao buscarem pelos altos padrões, podem sacrificar atividades prazerosas em prol do desempenho, como abrir mão do lazer e de reuniões com os familiares e amigos. Com isso, são esperados perda e enfraquecimento de seus vínculos sociais e aumento do estresse e sobrecarga, favorecendo ainda mais o aparecimento de sintomas psicopatológicos. O perfeccionismo também co- labora para uma sensação de culpa quando não se está tra- balhando para alcançar os altos padrões, por exemplo, em período de férias ou até mesmo afastado por condições médicas.

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