Estresse x Ansiedade, entenda um pouco mais!

 ESTRESSE E ANSIEDADE

A hipótese de que a severidade ou presença de eventos de vida estressores são preditivos de severidade ou presença de sintomas de ansiedade ou de transtornos de ansiedade têm sido alvo de estudos recentes com adultos e adolescentes.

A relação etiológica entre a exposição a eventos de vida estressores e o surgimento de sintomas e transtornos de ansiedade em geral, apesar de plausível, tem sido pouco estudada. Pouco se sabe sobre como as mudanças na carga de estresse ao longo do tempo se relacionam com as mudanças nos sintomas prodrômicos de ansiedade e no desenvolvimento de um transtorno de ansiedade.

Sabe-se que os sintomas prodrômicos de ansiedade podem surgir anos antes do surgimento de um transtorno definido e completo, em resposta a eventos estressores, como por exemplo desavenças interpessoais entre pacientes adultos. Então, estressores desta natureza são co-responsáveis pelo surgimento de transtornos mentais a curto, médio e longo prazo, bem como podem precipitar a recorrência de quadros psiquiátricos.

Foi testado a relação entre desavenças entre pais e filhos como evento de vida estressor, sintomas prodrômicos de ansiedade e depressão e o surgimento de transtornos de ansiedade e depressão aos 19 e 20 anos. Entre os adolescentes, a presença persistente ou crescente de desavenças com os pais foi preditiva de sintomas de ansiedade e depressão. A presença de sintomas crônicos ou crescentes de ansiedade ou depressão foi preditiva de transtornos de ansiedade ou depressão. As taxas de transtornos de ansiedade foram de 6,9% entre as meninas e 5,6% entre os meninos. Este estudo é uma rara demonstração da relação causal entre os eventos de vida estressores e o surgimento de sintomas de ansiedade e depressão, reforçando a associação entre estresse, sob a forma de desavenças interpessoais, e sintomas de ansiedade e depressão. Foi demonstrada uma associação positiva entre a mudança no padrão de estresse relacionada à mudança no padrão dos sintomas, ou seja, quanto maior a exposição ao estressor mais intensa a sintomatologia. Os eventos estressores estiveram indiretamente relacionados ao surgimento dos transtornos de ansiedade e depressivos.

Os indivíduos na fase adulta com freqüência deparam-se com diferentes situações potencialmente estressoras como a criação dos filhos, o relacionamento enquanto casal, relações interpessoais, necessidade de manutenção do emprego e a própria aposentadoria. Esta, podendo ocorrer na meia-idade, pode ser vivenciada como uma perda (financeira ou das relações sociais). Considerando eventos de vida estressores como infidelidade, ameaça de separação e agressões físicas, avaliaram a relação destes eventos com sintomas depressivos e ansiosos. Os indivíduos envolvidos em situações maritais humilhantes referiam significativamente mais sintomas não específicos de depressão e ansiedade que os indivíduos controles.

Deve-se ressaltar ainda a importância de avaliar as situações estressoras e suas manifestações entre os indivíduos da terceira idade. Nesta faixa etária, eventos de vida estressores, como perdas do companheiro, dos amigos, do trabalho e a diminuição das capacidades físicas, podem desencadear sintomatologia psiquiátrica. Avaliando idosos com e sem sintomas de ansiedade, não identificaram eventos de vida estressores específicos diretamente relacionados a cronicidade de sintomas ansiosos, mas observaram, no grupo estudado, que o principal evento de vida estressor na terceira idade associado com ansiedade foi a morte do parceiro. Outro estudo demonstrou existir similaridade para vulnerabilidade para depressão e ansiedade, mas os eventos de vida estressores diferiam. O início da depressão estava mais relacionado à morte do companheiro ou outro familiar e o dos sintomas ansiosos com o fato do parceiro desenvolver uma doença grave.

Frente a uma situação estressora, o tipo de resposta de cada indivíduo depende, não somente da magnitude e freqüência do evento de vida estressor, como também da conjunção de fatores ambientais e genéticos. Mesmo as capacidades individuais de interpretar, avaliar e elaborar estratégias de enfrentamento parecem ser geneticamente influenciadas.

A resposta de enfrentamento ao evento estressor, selecionada a partir dos componentes cognitivo, comportamental e fisiológico, caso consiga eliminar ou solucionar a situação estressora provocará uma diminuição da cascata fisiológica ativada. Se a resposta ao estresse gerar ativação fisiológica freqüente e duradoura ou intensa, pode precipitar um esgotamento dos recursos do sujeito com o aparecimento de transtornos psicofisiológicos diversos, podendo predispor ao aparecimento de transtornos de ansiedade entre outros transtornos mentais. O desenvolvimento de um transtorno está diretamente relacionado à freqüência e duração de respostas de ativação provocadas por situações que o sujeito avalia como estressoras para si.

Diversos estudos avaliaram a relação entre a ocorrência de eventos de vida estressores e o surgimento de sintomas depressivos. No entanto, poucos dados são encontrados na literatura em relação a sintomas ansiosos frente a estes eventos. Os autores sugerem que mais estudos de enfoque etiológico sejam realizados, avaliando a relação causal entre a exposição a diferentes eventos de vida estressores e o surgimento de sintomas de ansiedade, bem como de transtornos ansiosos. O reconhecimento desta relação causal terá implicações práticas tão relevantes como a prevenção de transtornos ansiosos e o estabelecimento de estratégias de tratamento.

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